Vício em Apostas Online: a ilusão de controle
No passado, para arriscar o próprio dinheiro em um jogo de sorte, era preciso entrar em um cassino, enfrentar luzes ofuscantes e o olhar atento de outros jogadores. Hoje, bastam alguns toques na tela. O cassino está no bolso, disponível 24 horas por dia. Mas o que realmente está em jogo quando falamos de vício em apostas online?

Quando a ilusão parece liberdade
Por que tantas pessoas continuam apostando, mesmo quando perdem mais do que ganham? A resposta talvez não esteja apenas no desejo de lucro, mas em algo mais profundo: a ilusão de controle.
A mente humana evoluiu em ambientes onde padrões significavam sobrevivência. Se uma árvore sempre produz frutos em determinado período do ano, isso podia ser aproveitado. Nosso cérebro foi moldado para detectar padrões (mesmo onde não existem). Em um ambiente digital, essa habilidade natural se transforma em armadilha.
Na roleta online ou nas apostas esportivas, o jogador acredita que está “quase ganhando”, que tem uma “estratégia”, que só precisa tentar mais uma vez. É como se estivesse no controle. Mas ele não está.
O novo vício do século XXI
O vício em apostas online não surge como um furacão. Ele entra silenciosamente, como um hábito inocente. Primeiro é um palpite em um jogo de futebol. Depois, uma rodada no caça-níquel virtual. Logo, a dopamina começa a ditar as regras. O mesmo neurotransmissor que foi essencial para a sobrevivência de nossos ancestrais agora é acionado por algoritmos projetados para prender nossa atenção e nos fazer apostar mais.
O que torna as apostas online tão perigosas é justamente sua personalização. Cada clique, cada aposta, cada perda e cada vitória são registrados e analisados. As plataformas não apenas oferecem jogos: elas moldam experiências. Sabem quando oferecer um bônus, quando enviar uma notificação, quando manter o jogador engajado.
O paradoxo da liberdade digital
Nunca fomos tão livres (e nunca estivemos tão vulneráveis).
A mesma tecnologia que permite que um jogador aposte com um clique é a que coleta, analisa e prevê seu comportamento, moldando o ambiente para que ele continue jogando. É a liberdade de escolher, mas dentro de um sistema que já antecipou essa escolha. É a sensação de controle, operando dentro de um roteiro escrito por alguém que nunca aparece.
A promessa da tecnologia era autonomia. Mas o que vemos no caso do vício em apostas online é o oposto: pessoas presas a padrões desconhecidos.
Não é que o jogador tenha sido forçado a apostar. É pior: ele acredita que decidiu por conta própria.
O verdadeiro paradoxo da liberdade digital está nisso: temos todas as opções à disposição, mas cada vez menos consciência sobre por que escolhemos o que escolhemos. E enquanto acreditamos estar no comando, as plataformas já estão nos dois passos à frente (especialmente quando há dinheiro envolvido).
Isso nos leva a uma pergunta desconfortável: o quanto de nossas escolhas é realmente nosso?

Uma sociedade que lucra com a compulsão
Não é por acaso que celebridades promovem casas de aposta em suas redes sociais, que clubes esportivos estampam suas marcas em uniformes e que influenciadores ensinam “estratégias” para ganhar dinheiro fácil com o jogo.
A linguagem é sempre otimista: “aposte com responsabilidade”, “multiplique seus ganhos”, “confie no seu palpite”. Mas o que está por trás dessas frases é uma estrutura social que naturaliza o vício como lazer.
Nesse cenário, a responsabilidade pelo vício é constantemente empurrada para a pessoa. “Você deveria saber quando parar”, dizem. Mas como exigir autocontrole de alguém que foi intencionalmente exposto a um sistema criado para enfraquecer esse mesmo autocontrole?
Afinal, você colocaria um copo de bebida alcoólica na mão de alguém que está tentando se recuperar do alcoolismo? Provavelmente não.
Mas as plataformas oferecem bônus de apostas por notificações de celular a pessoas endividadas, todos os dias.
Com isso tudo, as apostas passam a ser vendidas como oportunidade. As plataformas movimentam bilhões. E o curioso é que o lucro não vem quando você ganha, mas quando você acredita que está prestes a ganhar. Quanto mais tempo você permanece dentro do ciclo (perdendo, ganhando, quase ganhando) mais valioso você se torna. Em muitos sentidos, você deixa de ser o cliente. Você é o produto da operação.
E agora?
Ignorar o vício em apostas online é como ignorar o incêndio só porque ainda estamos do lado de fora da casa. É preciso falar sobre educação digital, regulação de plataformas e suporte psicológico para quem já se vê preso nesse ciclo.
Mas, mais do que isso, precisamos refletir sobre o vazio que as apostas tentam preencher. Se o jogo promete controle, o que está escapando de nossas mãos?
Se você (ou alguém próximo) tem enfrentado dificuldades com apostas, saiba que não é fraqueza pedir ajuda. O acompanhamento psicológico oferece um espaço seguro para compreender o que está por trás dos comportamentos compulsivos e reconstruir o senso de autonomia.
Agende uma sessão e dê o primeiro passo para retomar o controle (de verdade).

Psicólogo Marcus Medeiros | Psicólogo Comportamental
CRP: 15/7598
Atendimentos on-line em todo Brasil e Presenciais em Arapiraca
Agendamentos: (82) 9.9635-2129
FAQ – Vício em Apostas Online
O que torna o vício em apostas online mais viciantes do que as apostas tradicionais?
As apostas online são acessíveis 24 horas por dia, altamente personalizadas e envolvem algoritmos que estudam o comportamento do usuário para mantê-lo engajado. Ao contrário dos cassinos físicos, que exigem deslocamento e exposição pública, os ambientes digitais oferecem anonimato, conveniência e estímulo constante (o terreno ideal para o vício se instalar sem ser percebido).
Como saber se estou desenvolvendo um vício em apostas online?
Você sente necessidade de apostar cada vez mais? Tenta recuperar perdas com novas apostas? Já mentiu sobre o quanto gasta? Sente ansiedade quando não aposta? Se respondeu “sim” a uma ou mais dessas perguntas, pode estar enfrentando sinais de dependência. O primeiro passo é reconhecer. O segundo, buscar ajuda.
Existe alguma maneira “segura” de apostar online?
Apostar “com responsabilidade” é uma ideia promovida por empresas que lucram com o risco. Embora algumas pessoas consigam manter limites, o sistema é projetado para quebrá-los. Apostar, mesmo “por diversão”, envolve um jogo psicológico mais profundo do que parece.
Como ajudar alguém que está viciado em apostas online?
Comece com empatia, não com julgamento. Converse, ouça e ofereça suporte. Encaminhar para um psicólogo especializado pode ser fundamental. A compulsão não é sinal de fraqueza, mas o resultado de um sistema que explora vulnerabilidades muito antigas, com ferramentas modernas demais.
Existe tratamento para o vício em apostas?
Sim. O tratamento psicológico é uma das formas mais eficazes de lidar com o vício em apostas. A terapia é amplamente utilizada para ajudar a pessoa a reconhecer padrões de comportamentos, reduzir impulsos e desenvolver estratégias de autocontrole. A psicoterapia também pode trabalhar questões emocionais mais profundas, como ansiedade, solidão e baixa autoestima que muitas vezes estão na base do comportamento compulsivo.
1 comentário
Vício em apostas Online e a Mentira do “Agora Vai” · abril 24, 2025 às 1:24 am
[…] Sim. Na verdade, ganhar de vez em quando é o que mantém o vício em apostas online ativo. Isso cria a ilusão de que você está “no caminho certo”, quando na verdade está sendo mantido em um ciclo de reforço. O vício se alimenta da esperança, não da realidade estatística.Para mais informações leia o artigo: Vício em Apostas Online: A Ilusão de Controle […]